Ana Martins Marques escreveu
para uma antologia e disse
se há muito barulho no poema
será necessário preservar
algum espaço em branco
mas meus poemas ana
são pedras e pesam
na cabeça de quem lê
eventualmente podem construir
uma parede uma casa uma cidade
como fizeram os Incas
com Machu Picchu
ou podem destruir
como fez Jesus com as pedras
que ainda bem não foram atiradas
naquela mulher bíblica
meus poemas ana
carregam certas informações
condensadas deslocadas
os giros em paradoxo
exatamente como os sonhos
analisados por Freud
que talvez você não saiba
estendia-se por muito tempo
sobre a mesma cena
a repetição ele sabia a repetição
traz sempre uma novidade
uma palavra uma entonação
um detalhe despercebido e traz
principalmente
a possibilidade de mudança
meu analista disse Andreza
você quando fala escreve poemas
mesmo este deve-se a ele
pois as guerras ana
eu atravesso dançando
e não haverá aqui espaços em branco
uma bacia com água uma toalha
como você sugeriu
aqui as sirenes das ambulâncias
os motores das máquinas de quebrar
e o barulho ensurdecedor de asas
levantando do chão o pó
quando voam
“No final do poema deve-se sempre deixar algum/ peso/ um banco uma pedra um sapato/ segurando a porta.”
se há muito barulho num poema, é preciso escutá-lo bem.
nossa, que lindo! feliz de ter encontrado essa pedra no caminho